quarta-feira, 3 de abril de 2013

"Meus heróis não viraram estátua, morreram lutando contra aqueles que viraram"

Animação nacional conta o outro lado da história de nosso país

Luis Bolognesi trabalhou com sua equipe durante muito tempo em "Uma História de Amor e Fúria"

                                                                                     Guilherme de Moraes Corrêa

   Leitor peço licença para escrever em primeira pessoa, desculpe, isso nunca aconteceu antes numa crítica de um filme, nesse caso, esse texto tem uma essência dupla, pode ser uma mistura de crítica de cinema com uma espécie de crônica.
  Antes de falar do atual filme de Luiz Bolognesi, preciso contar um pouco sobre as produções anteriores, porque de fato, viver sem conhecer o passado é andar no escuro. Luiz Bolognesi foi redator na Folha de São Paulo e na Rede Globo. Dirigiu o curta Pedro e o Senhor (1995) e os documentários Cine Mambembe, O Cinema Descobre o Brasil (1999) e A Guerra dos Paulistas (2002). Como roteirista, escreveu os filmes Bicho de Sete Cabeças (2001); O Mundo em Duas Voltas (2006) e Chega de Saudade (2007), que receberam prêmios de melhor roteiro da Academia Brasileira de Cinema, APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) e nos Festivais de Recife e Brasília. Escreveu com Marco Bechis o roteiro de Terra Vermelha (2008), que competiu no Festival de Veneza. Luiz assina como roteirista o longa As Melhores Coisas do Mundo, prêmio de melhor roteiro no Festival de Recife 2010 e o atual trabalho no animação, "Uma História de Amor e Fúria" desenho animado do qual é também diretor. 
  Além de fazer filmes, Luiz exibe e ensina como se faz. Em 1996, ao lado da também cineasta Laís Bodanzky, Bolognesi criou o Cine Mambembe. Este cinema itinerante viajou o Brasil em uma Saveiro equipada apenas com um projetor 16 milímetros  uma pequena tela, um gerador e 12 curtas-metragens. Atualmente, o casal coordena os projetos Tela Brasil: Cine Tela Brasil, Oficinas Tela Brasil e Portal Tela Brasil. O objetivo é estimular a educação e a produção audiovisual brasileiras em regiões de difícil acesso e baixa renda.
   Voltando ao principal assunto, a primeira impressão diante desse novo trabalho de Luiz Bolognesi é a forma como ele trabalhou com sua equipe, a estratégia de publicidade na divulgação do novo animação, o que eu achei muitíssimo inteligente, os trailers, as entrevistas com os atores que dublaram os principais personagens, Selton Mello, Rodrigo Santoro e Camila Pitanga.
  Também destacando aspectos brasileiros, linguagem de HQ, passagens históricas do nosso país, culturas brasileiras e claro destacando o maior ponto turístico, o Rio de Janeiro e focando o grandioso Cristo Redentor.
  Tudo começa com os créditos iniciais do animação, onde apenas o som de tiros, respirações sem fôlegos, ainda em uma tela escura, passando os créditos iniciais em uma espécie de efeitos do futuro em hologramas. 
  Assim aparece o nosso protagonista em um Rio de Janeiro Futurista, no alto de um prédio com a nossa protagonista Janaína, narrando, ele diz que precisa dizer como ele chegou ali e que não é a primeira vez que ele está tentando salvar a sua vida e a vida de sua amada, pois então ele diz que viu muita coisa acontecer, ele está vivo há mais de 600 anos! Pois diz que viver sem conhecer o passado é andar no escuro.
  Ele era um índio tupinambá, em 1500, seu nome era Abeguar, nessa época ele recebe os poderes de poder voar como um pássaro, porém o seu grande mestre diz que seu destino está previsto para proteger o povo tupinambá dos tupiniquins e que aquela terra nunca mais será a mesma, com o tempo não haverá mais florestas, pessoas irão morrer, animais irão morrer e não irá mais existir a água, ela estará contaminada pelos poderes dos tupiniquins.
  E assim se passará a história do Brasil em quatro passagens: a Colonização, a Escravidão, o Regime Militar e o futuro em 2096 no Rio, onde estaremos lutando na guerra pela água, nesses períodos, nosso protagonista reencontra Janaína no corpo de outras mulheres, mas sempre com o mesmo nome, já ele, troca de nome, na sequência de Abeguar, Manuel Balaio, Professor Cal e o jornalista justiceiro em 2096. Todos esses períodos, os protagonistas enfrentam a opressão, estão sempre do lado fraco da história.
  O que me deixou muito feliz, é as frases com sentidos profundamente filosóficos e críticos do nosso país, o animação é muito bem produzido, uma essência totalmente brasileira, com técnicas de efeitos visuais muito bem trabalhados, trilha sonora que com certeza casa muito com as cenas e vai divertir o público. Para aqueles que leram o livro de Luiz Bolognesi e Pedro Puntoni, "Meus Heróis Não Viraram Estátua", é uma ótima complementação. 
  Então não perca daqui 2 dias, no dia 5 de Abril de 2013 é a grande estreia, não vai querer andar no escuro, sem conhecer o passado né? Está esperando o que? Não deixem de ver esse animação importantíssimo, vale lembrar que nesse animação é possível uma grande análise da realidade socioeconômica e política contemporânea. E lembrem-se mesmo que sem perceber, a gente tá sempre lutando por alguma coisa, mesmo que esteja do lado fraco da história, isso não faz a menor diferença, o importante é que você caia na real de que alguma forma você tem o espírito de herói. Nessa trama vai te fazer lembrar da literatura clássica brasileira, "Iracema" de José de Alencar e "Macunaíma" de Mario de Andrade.

Um comentário:

  1. Essa animação parece ser muito legal. Infelizmente não pude assistir aos vídeos agora, mas só por conta das belas cenas já tenho vontade de assistir. Beijos.

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